No dia 8 de julho de 2025, foi apresentado publicamente o “Relatório da Reformulação dos Alimentos em Portugal – 2018-2023”, uma iniciativa liderada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) e a consultora NielsenIQ. O documento reúne os resultados de cinco anos de trabalho no âmbito do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), coordenado pela DGS, e avalia o impacto da reformulação nutricional de produtos alimentares disponíveis no mercado português. O objetivo principal do relatório foi demonstrar os avanços obtidos na redução dos teores de sal, açúcar e gorduras trans em diversos alimentos de consumo regular no país, como medida estratégica de saúde pública.
Entre 2018 e 2023, Portugal implementou uma das mais relevantes iniciativas de reformulação nutricional da sua oferta alimentar. Coordenado pela Direção-Geral da Saúde, por meio do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), e com apoio do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o projeto teve como objetivo reduzir os teores de sal, açúcar e gorduras trans em categorias específicas de produtos alimentares amplamente consumidos no país. A proposta central foi reformular os alimentos sem depender de mudanças no comportamento dos consumidores, ou seja, melhorar a composição nutricional mantendo os mesmos hábitos de compra e consumo da população.
O compromisso envolveu associações do setor alimentar, como a FIPA e a APED, e foi monitorizado anualmente pela NielsenIQ, garantindo transparência e acompanhamento independente dos resultados. Ao longo dos cinco anos, cerca de duas mil referências de produtos foram reformuladas, abrangendo mais de 80% das vendas nas categorias selecionadas, como cereais de pequeno-almoço, refrigerantes, iogurtes, pizzas, snacks salgados e produtos de padaria.
Os resultados foram significativos: a redução média do teor de sal foi de 15%, o que representa menos 18 toneladas de sal disponibilizadas ao consumo alimentar nacional. No caso do açúcar, a redução média foi de 21%, correspondendo a menos 7.400 toneladas de açúcar presentes nos produtos alimentares reformulados. Esses números refletem um impacto direto e mensurável na saúde pública, contribuindo para a prevenção de doenças crónicas como hipertensão, obesidade e diabetes, sem exigir uma mudança ativa dos consumidores.
Além dessas categorias principais, outras iniciativas complementares também foram implementadas. Uma delas foi a reformulação do pão, tradicionalmente uma das principais fontes de sal na alimentação portuguesa. Através de acordos com a indústria de panificação, estabeleceu-se a meta de redução progressiva do teor de sal, chegando a 1g por 100g de pão. Outra ação foi o protocolo com o setor da restauração para reduzir o tamanho das embalagens individuais de açúcar, que passaram de 6g para 4g, uma mudança que, embora simples, teve grande impacto ao reduzir em cerca de 50% o teor de açúcar por dose.
O sucesso da iniciativa portuguesa reside, em grande parte, na articulação entre entidades públicas, setor privado e sociedade civil, demonstrando que é possível alinhar interesses e trabalhar em conjunto para transformar o ambiente alimentar. Trata-se de uma política inovadora, não apenas pelos resultados concretos, mas pelo modelo de governança baseado em dados, metas claras e avaliação externa independente. A experiência portuguesa pode, portanto, servir de exemplo para outros países que desejam promover uma alimentação mais saudável por meio de estratégias eficazes e realistas de reformulação alimentar.
Fonte: https://www.insa.min-saude.pt/wp-content/uploads/2025/07/DGS_PNPAS_ReformulacaoAlimentos_Relatorio.pdf
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