No debate sobre desperdício alimentar, a cadeia logística e os hábitos de consumo estão sempre sob os holofotes. No entanto, um setor permanece à margem das análises públicas e acadêmicas: o transporte de passageiros. O relatório publicado pela ADEME (Agência de Transição Ecológica da França) joga luz sobre essa lacuna ao investigar, de forma inédita, a perda de alimentos nos sistemas de transporte – com foco em trens e aviões.
O estudo revela que o desperdício alimentar neste setor é estrutural, permeando todas as fases: desde a preparação e carregamento, até a distribuição e o descarte final. Por exemplo, companhias aéreas descartam refeições completas por não corresponderem às normas sanitárias após o pouso, enquanto nos trens, alimentos preparados em excesso ou armazenados inadequadamente são simplesmente eliminados.
Alguns dos fatores mais relevantes identificados:
- Superdimensionamento da oferta para garantir conforto ao passageiro.
- Imprevisibilidade da demanda, especialmente em voos com alterações de última hora.
- Limitações operacionais (como falta de espaço para refrigerar sobras ou restrições de reutilização).
- Falta de indicadores robustos para mensurar e gerir essas perdas.
O relatório destaca que, embora os volumes desperdiçados ainda sejam pouco quantificados com precisão, eles representam uma externalidade negativa significativa – com impactos ambientais (emissão de CO₂, uso de água e energia), econômicos e reputacionais para as empresas do setor.
Oportunidades de mitigação apontadas incluem:
- Aprimoramento da logística de carregamento com base em dados históricos e previsões ajustadas.
- Desenvolvimento de embalagens mais duráveis e reutilizáveis.
- Estabelecimento de protocolos de redistribuição alimentar, especialmente em trajetos domésticos e curtos.
- Criação de indicadores operacionais específicos que permitam integrar o tema do desperdício aos planos de sustentabilidade corporativa.
A redução do desperdício alimentar no transporte coletivo de passageiros se alinha diretamente aos compromissos de descarbonização e economia circular. Trata-se de uma abordagem complementar aos esforços de redução de emissões e eficiência energética, muitas vezes priorizados pelas operadoras de transporte.
O relatório da ADEME não apenas preenche uma lacuna de conhecimento, mas propõe um novo paradigma de responsabilidade compartilhada entre operadores, fornecedores, prestadores de serviço e reguladores.
Relatório completo e explorar os detalhes técnicos do estudo: 👉 ADEME – Le gaspillage alimentaire dans les transports de voyageurs
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