« Alô alô!!
Só para partilhar o meu último feito: pernil de peru com recheio de alheira e a acompanhar : batata doce. Ao meio, arroz de miúdos de frango. Salteado de legumes, com couve portuguesa, cenoura e croutons. »
Gonçalo Rocha, diretor Gonçalo Portugal Tours em Lisboa, que tem enfrentado o confinamento em Portugal com muito bom humor, enviou a foto da sua refeição, descrita acima, para o projeto @a_comida_como_ela_e, e aproveitou para enviar suas impressões sobre o protagonismo dos alimentos durante esta crise sanitária.
« Quanto ao impacto que a Covid 19 teve na alimentação, torna-se complicado para já quantificar e qualificar.
Eu, como guia turístico e amante da gastronomia portuguesa, devo confessar que não tenho dados que me permitem fazê-lo, mas que posso supor duas tendências paralelas. Digo desta forma pois todo o mundo (literalmente) se encontra fechado em casa.
Por um lado temos uma classe de pessoas que, sócio-economicamente mais debilitada, pode tender a confeccionar nas suas casas determinadas refeições, usando os produtos de base da alimentação portuguesa, nomeadamente, o arroz, batata, azeite, couves e porco, assim como devem confeccionar pão e comida que pode ser mais rentabilizada, tendo em conta o seu baixo custo, aproveitando para congelar várias refeições e assim ter um custo oportunidade mais baixo. Desta forma podemos notar que determinados pratos se aproximam do chamados pratos típicos portugueses, dando como exemplo as pataniscas de bacalhau, que podem ser produzidas com as sobras ou partes “menos nobres” do bacalhau, as Migas a acompanhar a carne, estas confeccionadas com pão.
Por outro lado temos um conjunto de pessoas que independentemente das suas aptidões culinárias, tendem a procurar fazer em suas casas uns pratos mais bem elaborados e com ingredientes, que provavelmente outros agregados familiares não terão tanto acesso, dadas as suas dificuldades econômicas. Falo de camarão, salmão fumado, porco preto, carne de vaca e não só. Tendem a aproximar o seu respeito pela totalidade da roda alimentar, procurando nomeadamente uma variedade enorme de frutas cujas cores são variadas, leite, assim como os seus derivados, não desprezando os cereais.
Pelas redes sociais nota-se uma crescente “formação” em cozinha nunca antes visto, onde consigo identificar os “campeões da popularidade” : bolo de chocolate, bacalhau com natas e uma boa carne no forno.
De momento, nem posso provar as melhores iguarias que a minha mãe faz, dado o afastamento social.
Quanto ao turismo, que é a minha área, fico triste por não ter oportunidade de divulgar in loco o que de melhor Portugal tem no que diz respeito à gastronomia.
Ficam as memórias e a espera de o voltar a fazer.
Até, vou ter coragem para fazer um bom Cozido à Portuguesa ! »
Gonçalo Rocha – Lisboa, 13 de abril de 2020.
@goncalo.portugal.tours
www.goncalorocha.com