Riscos
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2025

PFAS e o futuro da segurança alimentar e dos alimentos

A ANSES publicou uma avaliação inédita sobre a contaminação por PFAS na França, com base em quase dois milhões de dados, mostrando sua presença em água, alimentos e solos. Apesar de regulamentações em avanço, muitas substâncias ainda carecem de monitoramento, exigindo ações proativas do setor agroalimentar. O estudo também aponta oportunidades de inovação e vantagem competitiva para empresas que adotarem práticas seguras e livres de PFAS.

A crescente atenção ao tema dos contaminantes ambientais que afetam a cadeia alimentar volta aos holofotes com o que promete ser uma avaliação inédita publicada pela Agence nationale de sécurité sanitaire – ANSES (ANSES) na França, acerca dos compostos per- e polifluoroalquilados — os chamados PFAS.

Segundo o comunicado da ANSES, trata-se de uma “avaliação global da contaminação por estes compostos em França”, fundamentada em “próximas de 2 milhões de dados relativos a 142 PFAS”.

Embora nem todos os detalhes estejam plenamente abertos, já pode-se destacar alguns pontos-chave:

  • A ANSES afirma que está realizando um levantamento abrangente dos níveis de PFAS em diferentes matrizes: água potável, alimentos, ar interior e pó, solo, produtos de consumo, exposições biológicas.
  • A regulamentação francesa e europeia sobre PFAS avança: por exemplo, na água para consumo humano a DIRECTIVE (EU) 2020/2184 institui o seguimento de 20 PFAS e prevê um parâmetro “PFAS(total)” de 0,50 µg/L para o conjunto medido.
  • A ANSES destaca que, embora regulamentações existam, muito permanece por investigar: muitas substâncias permanecem pouco medidas ou pouco caracterizadas toxicologicamente.
  • A partir de 2026, segundo o planejamento da ANSES, os novos dados sobre dieta (exposição alimentar) e água serão divulgados, reforçando o monitoramento nacional.
  • Em nível de políticas públicas, a França já está implementando um plano de ação interministerial para os PFAS, que visa reforçar a vigilância, reduzir as emissões, inovar na análise e mobilizar dados.

Para o setor agroalimentar estes dados lançam um alerta e uma oportunidade de ação:

  1. Exposição alimentar e cadeia produtiva
    • Se PFAS estão presentes em alimentos, água de produção, solos agrícolas ou embalagens, há risco de contaminação indireta dos alimentos.
    • Isso implica que as empresas do setor devem começar (ou reforçar) a monitorar internamente a presença destes compostos nos seus processos (matérias-primas, insumos, embalagem, água de processo, efluentes).
    • As análises recentes sugerem que as matrizes alimentares (peixes, abates, ovos, etc) já estão sendo investigadas em outros relatórios, o que indica que a vigilância deve subir na agenda.
  2. Regulação e conformidade futura
    • Com leis mais rigorosas em França (por exemplo, proibição de PFAS em cosméticos, têxteis a partir de 2026, e meta de eliminação até 2030) , e com diretivas europeias que ampliam a cobertura, o setor alimentar deve se preparar para regulamentos mais exigentes em embalagens, insumos, água, resíduos.
    • Isso significa antecipar: escolher fornecedores com certificação ou análise de PFAS, usar matérias-primas com rastreabilidade, e integrar requisitos de “minimização de PFAS” no sistema de qualidade e compliance.
  3. Gestão de reputação e comunicação
    • Consumidor cada vez mais informado: a expressão “poluentes eternos” começou a ganhar espaço no debate de saúde e ambiente (como mostram os artigos de imprensa)
    • Empresas que assumirem uma postura proativa podem usar isso como diferencial — por exemplo, “monitoramento livre de PFAS”, “embalagens com baixo teor de PFAS”, “processos com água controlada para micropoluentes”.
  4. Inovação e vantagem competitiva
    • O cenário aponta para aumento da demanda por alternativas aos PFAS (ex: embalagens sem PFAS, tratamentos de água com remoção de PFAS, técnicas agrícolas que limitem a entrada desses compostos no solo).
    • Empresas que se anteciparem a essa transição poderão ganhar vantagem competitiva, acesso a mercados mais regulados, e valor agregado na cadeia.

O relatório da ANSES representa um marco importante para o entendimento da contaminação por PFAS no ambiente e na cadeia alimentar na França — e por extensão, serve de alerta para a Europa e para o Brasil.

Para o setor agroalimentar, o momento é de antecipação estratégica: monitorar, adaptar, inovar.

A integração de temas como PFAS no plano de estudos, nas auditorias de qualidade e nas boas práticas de produção alimentar torna-se cada vez mais imprescindível.

Convidamos nossos parceiros, alunos e profissionais do setor a refletirem: como sua empresa está preparada para esse cenário emergente? Que ações concretas estão sendo tomadas para mitigar riscos e garantir alimentos mais seguros para todos?

Fonte : ANSES

Imagem: Freepik