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2025

Natal no sistema alimentar: consumo, gastos e dinâmicas econômicas

O Natal não é apenas uma celebração religiosa: para o setor agroalimentar e varejista é também uma das datas de maior impacto econômico do ano, especialmente nos países de tradição cristã no Ocidente.

O Natal não é apenas uma celebração religiosa: para o setor agroalimentar e varejista é também uma das datas de maior impacto econômico do ano, especialmente nos países de tradição cristã no Ocidente. Parte importante do gasto familiar anual concentra‑se na alimentação festiva, com consumidores antecipando compras de produtos sazonais e ingredientes para refeições tradicionais que mobilizam grandes volumes de perecíveis e bebidas.

Uma pesquisa em França mostra que as famílias planejam, em média, gastar cerca de €116 por pessoa apenas na ceia de Natal, com variações significativas entre faixas de renda e regiões — indo de cerca de €78 até €160 por pessoa, refletindo a importância contínua da gastronomia festiva mesmo em tempos de inflação. (sirhafood.com)

Esses gastos não se limitam a um país: dados de 24 países indicam que, além de presentes e decoração, a alimentação representa uma parte substancial do orçamento total de Natal, chegando a cerca de €124 por pessoa na França, €147 nos Estados Unidos e cerca de €121 no Reino Unido, confirmando que as refeições festivas são um eixo central do gasto familiar no fim do ano. (explodingtopics.com) Na Espanha, o gasto em alimentos em dezembro pode ser até 30% superior ao resto do ano, com cerca de €120 adicionais por lar impulsionados por produtos típicos dessa época. (lavanguardia.com)

Por outro lado, a inflação de preços tem moldado o custo dessas celebrações. Em Portugal, por exemplo, um carrinho de compras com 16 alimentos mais consumidos no Natal aumentou cerca de 4% em relação ao ano anterior, refletindo pressões sobre produtos como azeite, couve e peru — componentes centrais das tradições alimentares natalinas. (rr.pt) Essa pressão de preços também se observa no Reino Unido, onde itens festivos como chocolate tiveram aumentos expressivos (até +70% em certas categorias), e a inflação geral de alimentos continua acima da média dos preços ao consumidor. (theguardian.com)

O Natal também é marcado por padrões de consumo que geram excessos e desperdício alimentar, fenômeno que acompanha a concentração de compras e a ansiedade por abundância típica da quadra. Levantamentos em Portugal mostram que cerca de 6 em cada 10 portugueses desperdiçam comida durante o período natalício, com um desperdício médio estimado em 10% dos alimentos comprados para a época — mesmo em um contexto de maior contenção de gastos devido à inflação. (agroportal.pt)

Estudos na Espanha indicam que 26% dos consumidores admitiram desperdiçar alimentos especificamente no Natal, e que essa época tende a ser onde se observa o maior desperdício ao longo do ano. (eco.sapo.pt)

Dados mais amplos da União Europeia reforçam o contexto estrutural desse problema: em 2023 foram desperdiçados cerca de 130 kg de alimentos por habitante por ano na UE, com mais da metade gerada em resíduos domésticos — uma proporção que tende a crescer durante momentos de consumo intensivo como o Natal. (cncda.gov.pt)

Comparado a outras datas festivas ao redor do mundo, o Natal se destaca por sua combinação de tradição cultural, secularização do consumo e impacto econômico direto na cadeia agroalimentar global. Enquanto festas como o Ramadã ou o Ano Novo Lunar têm seus próprios padrões de gasto e significados culturais, o Natal no Ocidente traduz-se em volumes excepcionais de compras de alimentos, bebidas e produtos sazonais, impactando desde produtores e distribuidores até agentes do varejo e serviços de alimentação fora do lar. Essas dinâmicas revelam como as tradições religiosas se transformam em eventos econômicos de grande escala, moldando preferências de consumo, logística de suprimentos e estratégias de mercado em toda a cadeia de alimentação.

E, entre números, gráficos e análises, fica também espaço para um instante de contemplação. Que este Natal, mesmo sendo tão marcado por consumo e mercados, possa ser um momento de conexão, celebração e prazer compartilhado, e que cada mesa repleta de aromas e sabores se transforme em uma memória afetiva para todos que festejam.

Imagem: Freepik