Na França, comer refeições compartilhadas em horários fixos é um rito institucional e social estruturado que legitima o prazer alimentar das famílias. Este modelo alimentar está resistindo e se reinventando.
Depois de mais de dois anos de pesquisa, a Fundação Nestlé França, criada em 2008 para estudar nossos hábitos alimentares, acaba de publicar a primeira edição de seu Observatório de Alimentos e Famílias.
Seguem os resultados resumidos:
- Os franceses geralmente não pulam refeições, o jantar é a refeição mais essencial e o lanche da tarde é um momento privilegiado de consumo.
- O prazer é a principal preocupação das refeições para 58% dos franceses, e o assunto que mais falam nas redes sociais. O prazer é primeiro associado à noção de gosto (62%), convivência (48%) e “Comer junto” (41%). Cozinhar é um momento privilegiado de interação. 83% dos franceses ainda cozinham juntos.
- A tecnologia pode ajudar a variar os pratos e, portanto, os prazeres de cozinhar e comer; buscar inspiração ou originalidade no Instagram ou desenvolver pratos mais sofisticados com robôs.
- As famílias estão se adaptando a dietas fragmentadas para continuar a comer juntas.
Confrontado com preferências alimentares distintas ou divisivas dentro das famílias (mais da metade das famílias são afetados por uma diferença na dieta), 68% dos franceses cozinham pratos diversos, com uma base comum para que todos possam compor seus pratos de acordo com suas preferências. - Confirmam-se as tendências em torno do made in France, produtos locais e orgânicos.
- A atenção à nutrição é mantida.
- As novas práticas cívicas estão se fortalecendo.
- Em suas práticas, os consumidores se reapropriam do ato de fazer sua comida diária, levando sua refeição caseira para o escritório, e preparando os pratos para a semana.
- Uma alimentação saudável e equilibrada é uma grande preocupação para 70% dos franceses entrevistados.
- O preço é o principal obstáculo ao desejo de comer bem. Quase 1 em cada 2 franceses considera que é caro demais comer de forma equilibarada e balanceada.
- A falta de tempo é o segundo obstáculo para comer bem.
- Se o estudo mostrar que os entrevistados estão convencidos de se alimentar de forma saudável durante a semana e nos finais de semana, a observação mostra uma diferença com os seus comportamentos.
- Comer bem é assunto de família! A transmissão de boas práticas costuma ser feita pelos avós, entre a tradição e a adaptação aos tempos atuais. Pratos preparados pelos avós costumam ser mais elaborados do que os pratos preparados pelos filhos.
“Fomos seduzidos pela engenhosidade das famílias para se reapropriar da sua alimentação. Além das expectativas que tínhamos e que se confirmam, interessamo-nos por novas práticas ancoradas na vida diária das famílias, como as estratégias de compromisso culinário dentro da mesma casa reunir várias dietas distintas, o fornecimento de marmitas no escritório, a tendência do preparo em lote que visa preparar refeições para a semana nos finais de semana, ou ainda o aporte de tecnologias na dieta. » Laurence David, Diretor Geral da Fundação Nestlé França
“Notamos a tremenda capacidade das famílias de reinventar o modelo de comida francesa com novos usos, tecnologia ou o surgimento de preferências alimentares no lar. Ao mesmo tempo, as preocupações financeiras, aceleradas pelas preocupações de saúde e sociais, constituem outra lição principal do nosso observatório. Gostaríamos de acompanhar e analisar estes desigualdades sociais nas próximas edições. » Pierre-Alexandre Teulié, Diretor Geral Nestlé França.