Agricultura
05
.
06
.
2025

Criação de ruminantes e sustentabilidade: métricas, sistemas e saúde

No colóquio realizado em 14 de maio no Palais Bourbon, em Paris, especialistas de diversas áreas defenderam a substituição do PRG100 pelo PRG* para uma avaliação mais precisa do impacto climático da criação de ruminantes. O evento destacou a importância dos sistemas de criação extensiva e das pastagens permanentes na preservação do solo, da biodiversidade e da qualidade da água. Também foi ressaltado que os impactos ambientais e na saúde dependem mais do modelo de produção adotado do que dos ruminantes em si.

A discussão sobre o futuro da criação de ruminantes e sua relação com a sustentabilidade ganhou novos contornos recentemente, à luz das mais recentes descobertas científicas e debates entre especialistas de diferentes áreas. Mais do que um evento pontual, o diálogo atual reflete a necessidade de rever conceitos e métricas que orientam políticas públicas, práticas de produção e escolhas de consumo.

No dia 14 de maio, o Palais Bourbon, em Paris, recebeu mais de 400 participantes para um colóquio de alto nível sobre os impactos dos sistemas de criação de ruminantes no clima, na água, na poluição e na saúde pública. O evento, organizado pelo "Fonds de dotation Solid Grounds" e patrocinado pelo deputado francês Philippe Bolo, reuniu especialistas de diversas áreas, incluindo membros do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), agrônomos, geógrafos, sociólogos, eleitos, produtores rurais, organizações da sociedade civil e representantes de empresas e cantinas.

O debate foi marcado pela crítica aos métodos atuais de cálculo do impacto climático da agricultura, especialmente o uso do PRG100 (Potencial de Aquecimento Global em 100 anos).

Segundo os especialistas, essa métrica não reflete com precisão o impacto real dos diferentes gases de efeito estufa sobre o clima, gerando distorções importantes para o setor de ruminantes. Myles Allen, climatologista da Universidade de Oxford e coautor do relatório especial do IPCC, comparou o uso do PRG100 com uma "tentiva de pousar um avião com um altímetro defeituoso" — não é possível saber se estamos subindo ou descendo.

O PRG, nova métrica recomendada pelo IPCC, foi apresentado como alternativa, pois permite avaliar de forma mais realista o impacto dos gases de efeito estufa sobre o aumento da temperatura, considerando o caráter cumulativo do CO2 e do N2O, em vez de focar apenas no metano.

A adoção do PRG, recomendada pelo IPCC, surge como alternativa para uma avaliação mais realista. Essa métrica permite priorizar a redução de gases de efeito estufa de caráter cumulativo, como o CO2 e o N2O, em vez de focar apenas no metano. Michelle Cain, da FAO, destacou que, no contexto europeu, o N2O — proveniente principalmente de fertilizantes sintéticos — tem um peso maior no aquecimento global do que o metano emitido pelos ruminantes.

O colóquio também destacou o papel central dos sistemas de criação extensiva e das pastagens permanentes para a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares europeus. A manutenção desses sistemas contribui para o armazenamento de carbono no solo, a preservação da biodiversidade e a qualidade da água.

Xavier Poux, agrônomo e consultor, reforçou que o PRG ajuda a reorientar o debate para os sistemas de produção, e não apenas para os animais em si. “Não é a vaca, é o como” — a forma como os ruminantes são criados, especialmente quando alimentados com cereais fertilizados ou soja importada, é que determina o impacto ambiental.

A importância dos sistemas de criação extensiva e das pastagens permanentes foi reiterada por diversos especialistas, que apresentaram recomendações para políticas públicas voltadas à preservação desses agroecossistemas.

Léo Tyburce, do WWF França, destacou que a manutenção de pastagens e de ruminantes herbívoros é essencial para a resiliência dos solos, o ciclo do nitrogênio e a estruturação das paisagens rurais.

Na perspectiva da saúde, Michel Duru e Alain Peeters, ambos agrônomos, enfatizaram a necessidade de reconectar os ruminantes à pastagem. O pastoreio rotativo dinâmico, por exemplo, traz benefícios não só para o solo e a biodiversidade, mas também para a qualidade nutricional dos produtos derivados de animais criados a pasto, ricos em ômega-3.

A intensificação da produção, baseada em concentrados e cereais, foi criticada por gerar impactos negativos tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana.

Em síntese, o debate atual reforça a importância de adotar métricas mais precisas para avaliar o impacto climático da agricultura, priorizar sistemas de produção sustentáveis e reconhecer o valor das pastagens e da criação extensiva para a saúde do planeta e das pessoas

Imagem: Freepik