A Covid-19 apresenta, como não poderia ser de outra forma, uma geometria poliédrica que nos permite diferentes abordagens. Hoje me refiro às tendências gastronômicas observadas durante a pandemia, e questiono se elas são perenes.
A principal tendência observada foi o crescimento das compras on-line, principalmente de produtos saudáveis e de comerciantes locais. Muitos especialistas previram esses novos hábitos que a Covid-19 avançou significativamente. O crescimento nos primeiros 45 dias foi, de acordo com a Nielsen, de mais de 75%, um aumento de mais de 50% na entrega de encomendas.
A questão subjacente, entre os especialistas, é se esse modelo vai durar e se isso significará uma mudança no modelo de negócios das Pequenas e Médias Empresas (PMEs), tanto no setor de produção quanto no de distribuição.
Adotaremos uma alimentação mais saudável, com produtos mais saudáveis ?
Nos tornaremos consumidores mais ativos também na busca por um produto mais sustentável?
Receitas compartilhadas em redes sociais digitais e a recuperação de receitas familiares obrigou as empresas a repensarem, de acordo com o estudo Fooduristic, a alimentação como um ato de solidariedade em apoio ao tecido econômico local.
Muitos produtores locais começaram a comercializar on-line partindo do zero. O mercado dos correios espanhol (Correos) já oferece mais de 3.000 produtos de 400 produtores, com entregas por toda a Espanha, sem nenhum custo adicional para produtores ou consumidores. Ao que se acrescenta o crescimento de plataformas de comércio eletrônico, que agrupam produtores independentes.
Outra tendência a ser destacada na entrega de alimentos pelos correios é a compra de alimentos frescos e locais para aqueles que cozinham, e encomendas de qualidade aos teletrabalhadores: uma entrega qualificada de comida. Possivelmente haverá um crescimento adicional de eletrodomésticos para facilitar a confecção das refeições em casa, com o cozimento rápido e de qualidade.
Outra opção observada é a de clicar e coletar, comprar on-line e pegar na loja; serviço que multiplicou seu faturamento por cinco em relação a 2019. Os grandes chefs estão entrando nessa dinâmica com força e entusiasmo e forçarão muitos a repensar seu modelo de negócios.
Será que estes movimentos vão perdurar?
Alberto Berga Monge – Madrid, 01 de Junho de 2020.
O Prof. Dr. Alberto Berga Monge, é médico veterinário espanhol, professor e colaborador Verakis, professor colaborador da Universidade de Zaragoza, auditor da União Europeia e diretor da AMB Consulting, e vai ser um dos correspondentes Verakis para acompanhar a evolução do setor dos alimentos durante o desconfinamento europeu.