Longe das questões reais, a linguística se tornou o novo cavalo de batalha para a indústria alimentícia.
Bem-estar animal, saúde humana e exploração dos recursos, a alimentação está no centro dos desafios de hoje e de amanhã. Mas a luta agora parece estar acontecendo muito mais em palavras do que em nossos pratos.
Um bife pode ser vegano? O leite pode ser vegetal?
Sim, para salsichas de vegetais. Não, para o iogurte de soja.
Nos últimos anos a guerra foi feita com punhais lançados entre carnes proclamadas e veganos convictos.
Na sexta-feira, 23 de outubro de 2020, a União Europeia decidiu. Os eurodeputados rejeitaram uma emenda para proibir os fabricantes de “carne de mentira” de usar termos como bife, hambúrguer, salsicha ou costeleta.
Ainda podemos sempre nos gabar de comer um cachorro-quente vegetal no Instagram, mas iogurtes e leites vegetais, não.
Os termos “iogurte”, “queijo” e “natas” passarão a ser reservados para produtos que contenham leite animal. E a proibição se estende às expressões “sabor de queijo”, “sabor cremoso” ou “substituto de manteiga”.
Para esclarecer a situação com os consumidores é um trabalho colossal.
Sem realmente fazer sentido, o debate continua e os defensores das tradicionais indústrias agroalimentares estão brigando pelas palavras.
Na França os parlamentares já haviam legislado sobre o assunto, e decidiram proibir “carne de mentira” de usar os mesmos termos que os da verdadeira carne.
Nos Estados Unidos da Amércia vários estados americanos adotaram medidas semelhantes. A empresa Tofurky que produz uma alternativa ao peru assado, e várias associações contra-atacaram. A justiça decidiu em seu favor e derrubou as leis em Arkansas e Missouri.
Na Califórnia acredita-se que termos como “leite de soja” ou “leite de aveia” confundem os consumidores foi considerada absurda.
Os regulamentos aprovados pelo Parlamento Europeu não dizem respeito ao “leite de coco” e à “manteiga de cacau”. Esses termos são considerados expressões há muito estabelecidas e, portanto, compreensíveis pelos consumidores.
Alguns acredita que essa obsessão pela palavra certa tem menos a ver com a lingüística do que a defesa de um sistema alimentar que está ficando sem fôlego.
Outros acreditam na legitilidade do processo e do produto que deve condizer com a nominação final.
Para você semântica facilita a compreenssão de um produto ?
Leia mais sobre a emenda europeia : https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/AGRI-AM-632002_FR.pdf?redirect
Imagem: Alexas_Fotos