Existem os livros que nos atormenta, nos incomoda, nos mostra que fazemos parte de um modo de vida sem questionarmos além daquilo que nos circunda.
O livro "Steak Machine" de Geoffrey Le Guilcher, jornalista francês, é destes livros.
O jornalista, com uma identidade falsa, trabalhou 40 dias num abatedouro e por meio de uma narrativa na primeira pessoa conta esta experiência e acaba denunciando um sistema de produção de alimentos que causa danos físicos e psicológicos nos funcionários sobre os quais nunca paramos para pensar.
Quando se "milita" contra ou em favor do consumo de carne fala-se sobretudo da violência e das maneiras sádicas com que se trata os animais sacrificados. E quando se fala da produção de alimentos raramente, e eu até ousaria dizer nunca, se fala das condições de trabalho daqueles que passam horas, dias, meses, anos e mesmo uma vida exercendo atividades das mais variadas possíveis para nos deleitarmos em torno de uma mesa com amigos, saciar a fome dos nossos filhos, exibir nossos talentos culinários, tomar um café na padoca...
Muito bem escrito, um texto sensível e delicado, que me incomodou e me fez enxergar que as discussões sobre a produção e o consumo de alimentos deve ir além da composição química, do valor nutritivo, dos aspectos sanitários, dos compromissos ecológicos...precisamos repensar na produção excessiva de alimentos que além de incitar o desperdício e extenuar nossos recursos naturais, escraviza à moda contemporânea (escravidão assalariada) uma parte da humanidade.
Ainda acredito que matar para comer faz parte da nossa cadeia alimentar, sei que a proteína de origem animal tem um valor biológico superior, que o ferro que se encontra nas carnes é mais biodisponivel...mas será que precisamos matar tanto para comer poucas partes de um animal, ter tanto batom (batom é feito com gordura animal), usar tanto sabão e por ai afora?
Recomendo a tradução para o português !
Juliana Grazini dos Santos - Paris, 03 d abril de 2018.