
Em meio à verdadeira avalanche de selos e certificações que estampam as embalagens dos alimentos, uma pergunta persiste: será que esses símbolos chamam mesmo a atenção do consumidor? Cendrine Auguères, professora e pesquisadora da escola de engenharia de Purpan, decidiu investigar. Analisando 107 produtos e o comportamento visual de 420 consumidores, ela buscou entender o que faz um label se destacar no ponto de venda.
O que salta aos olhos primeiro? Marca e nome do produto!
Logo nos primeiros 3 segundos de observação, a resposta é clara: o olhar do consumidor vai direto para a marca e o nome do produto. Os rótulos e certificações? Só aparecem depois, em terceiro lugar na hierarquia de atenção.
Mas nem tudo é regra absoluta. Alguns produtos conseguem romper essa lógica. Frutas e legumes, por exemplo, se destacam muito mais: seus selos são, em média, 24% mais visíveis que os dos laticínios. Exemplos como o alho de Lautrec da linha “Itinéraires de nos régions”, que exibe nada menos que seis certificações, e os tomates da “Rougeline” com o chamativo selo “Zero Pesticida”, mostram que um bom design de embalagem faz diferença.
Tamanho é documento?
Sim, mas não só. Embora os labels ocupem em média menos de 2% da superfície da embalagem, seu tamanho tem impacto. O “Label Rouge” e o selo de Agricultura Biológica (AB) são os que mais se destacam visualmente, justamente por serem um pouco maiores — ainda que nem eles ultrapassem os 5% de área.
Outro fator que pesa: a posição na embalagem. Labels colocados no centro têm muito mais chances de serem notados do que aqueles escondidos lá embaixo, quase no rodapé. E mesmo rótulos com menor notoriedade pública, como o “Zero Pesticida”, conseguem boa visibilidade se forem grandes e estrategicamente posicionados.
Nem sempre o mais famoso é o mais visto
Curiosamente, a popularidade de um selo não garante sua visibilidade na prateleira. O selo IGP (Indicação Geográfica Protegida) é relativamente bem percebido, enquanto o AOP (Denominação de Origem Protegida), que é amplamente conhecido segundo dados da Xerfi (com 92,7% de reconhecimento), passa mais despercebido. Já a “Viande de France”, mesmo com tamanho reduzido, ainda assim é facilmente identificada, mostrando que outros fatores como a credibilidade e a familiaridade do consumidor com o selo também entram em jogo.
Da leitura ao impacto visual: o desafio das marcas
A principal lição? Mais do que informar, o selo precisa ser “visto”. Cendrine Auguères destaca três caminhos para melhorar essa percepção:
- Centralizar o selo – Posição estratégica é tudo!
- Priorizar o visual sobre o texto – O consumidor decide em segundos, o impacto visual é decisivo.
- Agrupar as certificações – Juntar os labels pode abrir mais espaço na embalagem e reforçar a mensagem.
Esses insights vão ao encontro de pesquisas recentes, como a de Hossein et al. (2024), que comprovam: informações que ocupam menos de 5% da embalagem têm pouquíssima chance de serem vistas de forma eficaz.
No fim das contas, a batalha por atenção nas gôndolas é intensa. Para os labels, o desafio é claro: deixar de ser apenas um detalhe técnico e virar um verdadeiro argumento de escolha.
Referência : Auguères, C. (2025, 24 de abril). Comment sont perçus les labels alimentaires sur les emballages ?. Réussir, Chaire In’FAAQT, École d’ingénieurs de Purpan. Estudo baseado na análise de 107 produtos e 420 consumidores, abordando visibilidade e posição dos labels nas embalagens .
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