
Depois do pleonasmo que foi a “nutrição funcional”, passando pela nutrição que se comporta — a famosa “nutrição comportamental” —, e pelo horror semântico do marketing nutricional, da comunicação nutricional e do terrorismo nutricional, surge agora a última tendência: neurociência nutricional.
E, para piorar, seu spin mais fashion: neuronutri!
Mas, afinal, o que isso significa? Neurociência nutricional é o estudo de como nosso cérebro funciona ao ser nutrido? Neuronutri é a nutrição neurótica? Ou seria a relação entre nutrientes e comportamento cerebral? Ou ainda o impacto da alimentação no desempenho cognitivo?
A verdade é que, muitas vezes, esses termos são criados mais para impressionar do que para informar, soando sofisticados e científicos, mas escondendo um conteúdo superficial, pouco fundamentado e altamente mercadológico.
E não para por aí. As modas nutricionais recentes se multiplicam a cada estação: nutrição personalizada, nutrição digital, nutrição quântica, nutrição ortomolecular, nutrição integrativa, nutrição regenerativa…
Todas prometem revolucionar a alimentação, otimizar o corpo, prevenir doenças e aumentar o bem-estar — tudo com títulos pomposos, gráficos bonitos e marketing irresistível.
O problema é que muitos desses conceitos não passam de estratégias comerciais: cursos rápidos, influencers vendendo planos milagrosos, livros com soluções universais e suplementos caros.
No fim, o que deveria ser ciência aplicada à nutrição acaba virando produto, estilo de vida ou buzzword para alimentar redes sociais.
É hora de perguntar: quando uma ciência deixa de ser ciência e passa a ser marketing?
Antes de abraçarmos a última tendência, vale voltar ao básico: compreender a relação entre nutrientes, cérebro e comportamento de forma crítica, sem modismos ou títulos pomposos que confundem mais do que esclarecem.
