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2025

Proibição da publicidade de alimentos : solução ou paliativo ?

A Bélgica vai banir a publicidade de junk food para menores de 16 anos a partir de 2026 — mas será que calar os anúncios resolve o problema? Enquanto o setor comemora a “responsabilidade social”, o debate escancara uma contradição: estamos combatendo o marketing ou ignorando as raízes sociais da má alimentação? Afinal, de que adianta proibir refrigerantes na TV se o problema é bem mais complexo ?

A partir de janeiro de 2026, o setor de alimentos e varejo na Bélgica vai restringir ainda mais a publicidade de alimentos para menores de 16 anos. Agora, produtos que não passam pelo crivo dos critérios nutricionais definidos simplesmente não poderão mais ser promovidos para crianças e adolescentes. A medida, apresentada como um avanço social, levanta uma questão incômoda: será que proibir anúncios é realmente a solução para os desafios da saúde pública?

A Federação Belga da Indústria de Alimentos (Fevia) anunciou que as restrições vão muito além do que já era praticado. Não só as escolas primárias, mas também as de ensino médio, estarão protegidas por um raio de 150 metros livre de publicidade de junk food. Redes sociais? Também estão na mira. A mensagem é clara: proteger os jovens a qualquer custo. Mas será que é assim tão simples?

A lista de produtos proibidos inclui refrigerantes, sorvetes, salgadinhos, chocolates e doces em geral – a menos que cumpram critérios quase utópicos de baixo teor de açúcar, gordura e sal. Só então, e apenas para maiores de 13 anos, a publicidade é tolerada. O Júri de Práticas Éticas (JEP) fica encarregado de monitorar e punir desvios.

Cieltje Van Achter, Ministra da Mídia da Flandres, celebra o código como exemplo de responsabilidade social empresarial. Mas será que confiar na autorregulamentação das próprias indústrias que lucram com a venda desses produtos é suficiente? Ou estamos apenas criando uma fachada de responsabilidade enquanto os problemas reais permanecem intocados?

Bart Buysse, CEO da Fevia, afirma que o setor está assumindo sua responsabilidade – mas será que restringir anúncios é mesmo o caminho para uma sociedade mais saudável? Ou estamos apenas transferindo a culpa para a publicidade e ignorando fatores como educação alimentar, acesso a alimentos saudáveis e o papel das famílias?

A Bélgica não está sozinha. O Reino Unido já proibiu anúncios pagos de junk food na TV e online antes das 21h. A Noruega foi ainda mais longe, banindo toda publicidade de alimentos não saudáveis para menores de 18 anos. Mas onde estão os dados que comprovam a eficácia dessas medidas? Menos anúncios realmente se traduzem em menos consumo? Ou apenas empurramos as crianças para outras formas de influência, como o marketing de influenciadores e o boca a boca digital?

No fim das contas, a iniciativa belga é ousada, mas não deixa de ser polêmica. Será que estamos atacando a raiz do problema ou apenas podando alguns galhos? Proibir publicidade é uma solução real ou apenas uma estratégia conveniente para mostrar ação sem enfrentar os desafios mais profundos?

A discussão está aberta. Afinal, proteger as crianças é fundamental – mas será que estamos fazendo isso da maneira mais eficaz?

Me parece que tem tantos aspectos sociais profundos para tratarmos. A publicidade é aspecto que acaba parecendo ínfimo quando pensamos na educação destas crianças/adolescentes, da disponibilidade de alimentos por metro quadrado, no preço das frutas, verduras e legumes, na qualidade intrínseca dos alimentos.

Finalizo com a questão que sempre me interpela: Por que e alguma regiões tem Coca-Cola mas nao tem água potável para a população ?

Imagem : Freepik